Abordagem pré e perioperatória

Então vamos começar estudando o famoso risco cirúrgico (ou anestésico-cirúrgico). Se ainda não viu, certamente ao longo do seu curso verá o pessoal da cirurgia geral pedindo vários riscos cirúrgicos. Mas como isso funciona na prática?

Nós sabemos que qualquer cirurgia gera uma situação de estresse fisiológico ao organismo. Isto ocasiona uma série de mecanismos de resposta a esse fenômeno. Além disso, outras variáveis como o local, extensão e duração da cirurgia, a presença e gravidade de comorbidades, a idade do paciente, entre outras coisas, aumentam ou diminuem a chance do paciente complicar durante ou após um procedimento cirúrgico.

Dessa forma, fica claro que é fundamental que nós tenhamos ferramentas que nos permitam avaliar e quantificar esse risco. Para poder indicar (ou contraindicar) adequadamente a cirurgia, manejar certas condições que o paciente apresente a fim de diminuir a chance de complicações, etc. A avaliação e o manejo pré-operatório feito corretamente pode mudar drasticamente o resultado final da terapêutica que você estabeleceu. Portanto, é algo que nós precisamos dominar de maneira bem segura.

O risco cirúrgico de um paciente é estimado baseado em escores que foram definidos por inúmeros estudos. Vamos apresentar alguns dos mais utilizados na prática clínica. É importante saber que as principais avaliações feitas consistem no risco anestésico, o risco cardiovascular e o risco pulmonar, considerando cada uma das variáveis presentes na nossa situação. No nosso post de hoje, vamos falar basicamente sobre o risco anestésico.

Como estimar o risco anestésico?

American Society of Anesthesiologists (ASA) desenvolveu, em 1941,  um sistema de classificação de risco pré-operatório. Após algumas revisões ao longo dos anos, continua sendo um dos principais mecanismos de avaliação de risco cirúrgico até os dias de hoje.

A classificação da ASA (ASAPS) basicamente leva em consideração o status físico do paciente, e a presença de comorbidades a fim de classificar os pacientes em 6 grupos. O risco cirúrgico é progressivamente maior, quanto maior o grupo onde o paciente se enquadra.

O sistema tem seus problemas, como não considerar a idade ou a presença de via aérea difícil na estimativa de risco; avaliar o status físico dos pacientes apenas de maneira subjetiva; e não avaliar disfunções orgânicas de maneira específica. No entanto, mesmo assim a classificação exibida a seguir ainda é considerada um bom preditor de mortalidade operatória dos pacientes.

– ASA 1: paciente totalmente saudável (sem distúrbios orgânicos de  qualquer natureza).

Ex.: paciente com IMC menor que 30, não-tabagista, hígido, que se exercita regularmente.

– ASA 2: paciente com doença sistêmica leve, controlada e sem limitações funcionais.

Ex.: paciente com hipertensão arterial tratada, IMC entre 30 e 40, tabagista, etilista social.

– ASA 3: paciente com doença sistêmica severa, apresentando limitação funcional, mas que não ameaça a vida do paciente nesse momento.

Ex.: paciente com hipertensão ou diabetes mellitus mal controladas, IMC maior que 40, doença renal crônica, angina estável, marcapasso implantável.

– ASA 4 : paciente com doença sistêmica que é ameaça constante à vida ou gera incapacidade funcional.

Ex.: paciente com angina instável, DPOC mal controlado com exacerbações, insuficiência cardíaca sintomática, AVE ou IAM há menos de 3 meses.

– ASA 5: paciente moribundo, no qual não se espera que sobreviva sem a cirurgia nas próximas 24 horas.

Ex.: paciente com ruptura de aneurisma de aorta abdominal, trauma severo, hemorragia intracraniana extensa com efeito de massa.

– ASA 6: paciente em morte cerebral, que será submetido à cirurgia para retirada e doação de órgãos.

Atenção:

Sempre que o procedimento cirúrgico que estiver sendo considerado for de emergência, devemos acrescentar a letra E à classificação ASA do paciente (de ASA 2, passa a ser ASA 2E, por exemplo).

Esse é o principal recurso utilizado na prática para estimar o risco anestésico dos nossos pacientes. Mas como vimos, há várias condições que podem estar presentes e não são contempladas por essa classificação. Por isso mesmo, nos próximos posts vamos falar de outros escores, sobre a estimativa do risco cardiovascular e pulmonar, exames pré-operatórios, e mais.

REPOST: Jaleko

Share.

Leave A Reply