O que é o herpes genital?
Consiste em uma doença ulcerativa, crônica e recorrente, sendo uma das ISTs mais comuns do mundo.
Anualmente, são cerca de 600 mil novos casos de herpes no mundo. E a incidência vem aumentando gradativamente ao longo dos anos por fatores como a maior exposição sexual, maior número de parceiros sexuais, e o início precoce da atividade sexual, todos esses fatores associados a não utilização de métodos de proteção, como a camisinha.
Quem causa o herpes genital?
O herpes é causado por um vírus do herpes simples (HSV), da família Herpesviridae, subtipos 1 e 2 – HSV 1 e HSV 2.
O HSV 1 está localizado na região orofaríngea, sendo que pode ser adquirido durante a infância devido aos hábitos de higiene das crianças. Apesar de ser primário da orofaringe, ele também pode estar presente na região genital. O HSV 1 geralmente aloja-se no gânglio trigêmeo.
Já o HSV 2 está primariamente localizado na região genital. A principal forma de adquiri-lo é pelo início da atividade sexual. Está envolvido em uma grande porcentagem dos casos de herpes simples, de 70% a 95%. O HSV 2 geralmente aloja-se no gânglio sacro.
O vírus permanece alojado nos gânglios, até que seja reativado. E apesar da divisão por localização, é possível um paciente apresentar HSV 1 na região oral e mais raramente ainda HSV 2 na região genital.
Transmissão do herpes genital
Assim como as demais ISTs, o herpes genital é transmitido por meio do contato do vírus com regiões de microtrauma na mucosa (oral, genital e anal, por exemplo). Esse microtrauma acontece, por exemplo, na relação sexual.
Dessa forma, o vírus penetra nas células e essas células infectadas se fundem, formando células gigantes e multinucleadas.
Além da transmissão sexual, que é a principal, pode ocorrer também a transmissão vertical, que pode ser durante a gestação, durante o parto (periparto) ou pós parto. A maior parte ocorre no periparto.
Quadro clínico: Primoinfecção x Recorrência
Infecção primária
A primoinfecção ou infecção primária corresponde ao primeiro episódio resultante do contato com o vírus, que ocorre cerca de 6 dias após o contato.
Pode ser assintomática, porém quando sintomática é mais intensa e com sintomas mais graves.
“E que sintomas são esses?”
Inicialmente têm-se os pródromos, que são os sintomas que indicam o início de uma doença específica antes que os sintomas específicos da mesma surjam. Os pródromos são prurido, ardência, parestesia, ardência e aumento da sensibilidade.
Após esses sintomas, observa-se o surgimento de lesões cutâneas na região genital, que se iniciam como pequenas e múltiplas vesículas em região eritematosa, que posteriormente se rompem, dando origem às úlceras. Essas lesões ulceradas são dolorosas e não sagram. Após alguns dias forma-se uma crosta sobre a lesão e então ocorre a cicatrização.
Além dessa manifestação específica, pode notar-se também a linfadenomegalia inguinal dolorosa bilateralmente e sintomas sistêmicos como febre, mal estar, mialgia e astenia.
Após o quadro, seja ele sintomático ou não, o vírus pode dirigir-se aos gânglios e ali alojar-se.
Recorrência (herpes recorrente)
A forma recorrente se dá quando aquele vírus que estava alojado no gânglio sofre uma reativação.
É mais branda que a infecção primária, ou seja, os sintomas são atenuados, até pelo fato de já existir uma imunidade adquirida.
Assim como na primoinfecção, pode ser precedida pelos pródromos (prurido, ardência, parestesia, hipersensibilidade, mialgias e fisgadas).
As lesões geralmente acometem o mesmo local acometido na primo-infecção.
“ E o que leva ao herpes genital recorrente?”
Uma vez que o vírus está alojado, alguns fatores podem provocar a reativação viral, e assim levar ao herpes genital recorrente.
Os principais fatores que podem levar a reativação são as infecções são, por exemplo, quadros de febre prolongada, radiação ultravioleta (exposição solar), frio intenso, antibioticoterapia prolongada, trauma local, estresse emocional e menstruação.
Herpes genital na mulher
O herpes genital na mulher apresenta todos os sintomas já comentados anteriormente, como os sintomas prodrômicos e os sintomas específicos (lesões cutâneas).
Na mulher essas lesões cutâneas localizam-se principalmente em regiões como os pequenos e grandes lábios, clitóris e no colo do útero. Quando ocorre o acometimento do colo uterino, pode surgir o corrimento vaginal.
Um sintoma que pode estar presente na mulher é a disúria (dor ao urinar).
Herpes genital no homem
No homem, a infecção é marcada pelos mesmos sintomas.
As lesões geralmente localizam-se na glande e no prepúcio.
O acometimento uretral pode cursar com corrimento.
Herpes genital na gravidez
O herpes genital durante a gravidez traz riscos ao feto, a transmissão é maior quando a infecção primária se dá no terceiro trimestre de gestação.
Algumas complicações podem ocorrer devido à infecção, por exemplo, o aborto espontâneo, a prematuridade e o risco de herpes congênita e herpes neonatal.
Apesar da infecção poder ocorrer durante o período intraútero, periparto ou pós parto, a grande parte das infecções se dão no periparto, provocando a infecção neonatal.
A infecção neonatal (adquirida no periparto, pelo contato com secreções genitais maternas) pode apresentar-se como infecção de pele, olho e boca, ou infecção do sistema nervoso central (SNC) com ou sem acometimento cutâneo ou ainda como infecção disseminada.
A infecção intraútero (herpes congênita) é menos frequente, mas se ocorrer também traz consigo consequências ao feto como microftalmia, displasia da retina, microcefalia, hidranencefalia e displasia cutis
A gestante com herpes genital deve ser acompanhada pelo obstetra, e a escolha da via de parto deve-se levar em consideração alguns fatores como a presença de infecção atual ou passada e a presença de lesões ativas no canal, por exemplo.
Herpes genital e HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana)
Nota-se uma importante associação entre HIV e HSV.
Por um lado, em quadros graves de imunossupressão pelo HIV (AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Humana) pode ocorrer a reativação do HSV latente.
Por outro lado, a infecção pelo herpes genital pode facilitar a infecção por HIV. Isso porque as úlceras presentes na infecção pelo HSV são acompanhadas de infecção local e rompimento de mucosa, o que facilita a entrada do HIV. Além disso, as lesões ulceradas recrutam células CD4+, que são os principais alvos do HIV.
Diagnóstico do herpes genital
O diagnóstico pode ser obtido de diversas formas. Vamos falar um pouco sobre os principais métodos que podem auxiliar no diagnóstico.
Clínico
O diagnóstico clínico é importantíssimo, avaliando as lesões ulceradas e sua característica principal, iniciando como vesículas agrupadas e evoluindo para uma lesão ulcerada, dolorosa. Porém, o diagnóstico clínico pode ser difícil pois existem outras ISTs com lesões ulceradas semelhantes.
Citopatologia
A coleta do material e realização de um esfregaço corado pelo Giemsa (o conhecido método de Tzanck) pode ser realizado, ou ainda pode realizar-se o método de Papanicolau.
Na citopatologia é possível a visualização de células gigantes e multinucleadas, resultantes da fusão de células infectadas. O método de Papanicolau permite ainda a visualização de inclusões virais, chamadas de “vidro moído”.
Método de imunofluorescência direta
Esse método se dá pela detecção de antígenos do HSV.
Sorologia
A pesquisa de anticorpos específicos ao HSV pode ser muito útil para a realização do diagnóstico. A presença de anticorpos específicos indica que o sistema imunológico já entrou em contato com o vírus, e desenvolveu uma resposta contra o mesmo.
Porém a sorologia sozinha não é capaz de realizar o diagnóstico! Lembrem que a maior parte dos pacientes possuem doença assintomática, e um paciente que já teve contato com herpes pode muito bem agora ter outra IST (até porque a forma de contágio é a mesma).
Pode ser solicitado o IgM (associado à fase aguda do quadro) e o IgG (associado à fase crônica e a reativação).
Tratamento do herpes genital
O tratamento possui algumas importantes funções como melhorar a qualidade de vida do indivíduo, aliviar e reduzir os sintomas (vimos que em determinados momentos eles podem ser mais intensos, como nos quadros primários), reduzir as recorrências, e interromper a cadeia de transmissão do vírus.
Herpes genital tem cura?
Essa é uma importante dúvida, e muitos se perguntam, “herpes genital tem cura?”, e infelizmente a resposta é não.
O herpes genital NÃO tem cura. É uma doença crônica, recorrente e incurável. Porém, o tratamento possui os seus objetivos, como dito anteriormente.
Tratando o herpes genital
O tratamento varia de acordo com algumas condições como: “é primoinfecção ou recidiva?”, “o paciente é imunossuprimido?”, “trata-se de uma gestante?”.
Vamos por partes.
Tratamento sintomático: O que mais incomoda as pessoas? São os sintomas provocados pela infecção. Então, o tratamento sintomático é importantíssimo, cumprindo alguns dos objetivos descritos anteriormente.
Assim, o uso de analgésicos e antiinflamatórios (https://blog.jaleko.com.br/aines-quem-sao/) pode ser indicado. A limpeza da ferida também deve ser realizada, podendo utilizar o soro fisiológico.
Para evitar infecções secundárias, podem ser utilizados antibióticos tópicos no local.
Tratamento da infecção (antivirais):
Primoinfecção: no primeiro episódio o tratamento deve ser realizado com Aciclovir, Valaciclovir ou Fanciclovir. Quando mais precocemente for iniciado, melhor!
O tratamento da primo-infecção geralmente dura de 7 a 10 dias.
O Ministério de Saúde indica o uso de Aciclovir 200 mg, 2 comprimidos, via oral, 3x/dia, por 7-10 dias.
Recidiva: Os mesmos medicamentos são utilizados no tratamento das recidivas: Aciclovir, Valaciclovir ou Fanciclovir.
O tratamento deve ser iniciado no período prodrômico.
Uma importante diferença do tratamento das recidivas para o tratamento da primo-infecção é que a duração do tratamento das recidivas é menor, máximo de 5 dias (varia de acordo com a droga escolhida).
O Ministério de Saúde indica o uso de Aciclovir 200 mg, 2 comprimidos, via oral, 3x/dia, por 5 dias.
Terapia supressiva: pode ser realizada em paciente que apresentem mais de 6 episódios de herpes genital em 1 ano.
O tratamento é prolongado, cerca de 6 meses, podendo ser estendido.
O Ministério de Saúde indica o uso de Aciclovir 200 mg, 2 comprimidos, via oral, 2x/dia, por até 6 meses, podendo prolongar por até 2 anos.
Casos graves (imunossuprimidos): Aciclovir via endovenosa, 5-10mg/kg, de 8/8 horas, por 5 a 7 dias ou até que ocorra a resolução clínica
Gestação: deve-se tratar o primeiro episódio em qualquer trimestre da gestação, e o tratamento é realizado conforme o tratamento para primeiro episódio.
Prevenção do herpes genital
Apesar de não ter cura, o herpes genital pode ser prevenido, e as medidas preventivas podem reduzir em mais de 50% o risco de contágio!!
A prevenção é realizada por medidas como educação em saúde, e uso de métodos de barreira durante a relação sexual.
O uso de camisinha durante a relação deve ser incentivado, para prevenção da infecção pelo HSV, e prevenção de outras ISTs. Para aumentar a efetividade do método, é necessário que as lesões presentes na região genital estejam envolvidas pelo preservativo.
A circuncisão (retirada cirúrgica do prepúcio) nos homens é considerada um fator protetor, reduzindo o risco de contágio.
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