Quais são as possíveis causas para áreas eletricamente inativas?

     A causa mais comum é a fibrose miocárdica, que pode ser consequência de diversos eventos como, por exemplo, infarto do miocárdio (geralmente ocorrem na fase aguda do IAM, podendo ser transitórias ou permanentes).  Essas alterações podem acontecer tanto no infarto com supra de ST, quanto no sem supra (embora, seja mais comum no primeiro). Outras possibilidades para fibrose são processos como evolução de miocardites e miocardiopatias.

     Vale a pena lembrar que outras doenças podem cursas com áreas eletricamente inativas por substituição do miocárdio saudável por algum tecido infiltrativo (ex.: granulomas na sarcoidose, proteínas amiloides na amiloidose).

     Resumindo, causas que devem ser lembradas ao nos depararmos com áreas eletricamente inativas no eletrocardiograma:

– Infarto do miocárdio;

– Miocardiopatias;

– Miocardite;

– Doenças granulomatosas (ex.: sarcoidose);

– Doenças infiltrativas (ex.: amiloidose, hemocromatose);

– Tumores cardíacos;

– Esclerodermia;

– Distrofias musculares

Como posso reconhecer essas alterações no Eletrocardiograma?

     Em geral, a fase positiva do QRS (onda R) se encontra reduzida na parede afetada e a onda negativa inicial (onda Q) é mais proeminente. Sendo assim, teremos uma configuração de QrS ou Qr (a depender da derivação), ao invés de qRS ou qR. Nos casos mais graves (ex.: após necrose transmural do miocárdio), o eletrocardiograma pode se demonstrar sem qualquer atividade elétrica na região afetada, tendo como característica o complexo QRS transformado em apenas QS.

     Em qualquer uma das situações descritas, a onda Q é a chave para identificarmos uma área eletricamente inativa.

A seguir vemos um eletrocardiograma dentro da normalidade:

Percebam a pequena onda q em DI, V5 e V6, o que é considerado normal.

Agora, vamos demonstrar um ECG com área eletricamente inativa:

Notem as ondas Qs nas derivações DII, DIII e aVF.

No próximo, a gente consegue visualizar um padrão QS nas derivações inferiores, sugerindo um quadro mais grave de necrose e ausência de atividade elétrica nesta topografia. Na parede anterolateral, também podemos perceber a perda de progressão da onda R (V4 a V6):

Obs: Em situações em que há onda Q profunda em apenas uma derivação, não podemos afirmar que se trata de área eletricamente inativa. Para determinarmos isso, temos que presenciar um eletrocardiograma com esses achados em mais de uma derivação, respeitando a mesma parede.

Ok! Agora, quais são os critérios diagnósticos de área eletricamente inativa, de fato?

  1. Onda Q com duração maior ou igual a 40 ms (ou seja, um “quadradinho”) em duas ou mais derivações contíguas ou redução (ou ausência) de onda R onde se esperaria estar presente
  2. Onda Q com tamanho maior que 25% do complexo QRS (lembrando: sempre o achado deve estar presente em mais de 1 derivação contígua!).

Relembrando as paredes:

V1, V2 e V3 -> parede anterosseptal

V1-V4 -> parede anterior

V3 e V4 ou V3-V5 -> anterior localizada

V4-V6, DI e aVL -> anterolateral

V1-V6, DI e aVL -> parede anterior extensa

V5 e V6 -> parede lateral baixa

DI e aVL -> lateral alta

DII, DIII e aVF -> parede inferior

V7, V8 e V9 -> parede dorsal (ou posterior)

V3R, V4R -> derivações direitas

Em algumas situações do eletrocardiograma, visualizamos onda Q patológica, mas os exames de imagem não demonstram áreas sugestivas de inatividade elétrica. O que devemos pensar nessas situações?

     Grave isso! A onda Q patológica nem sempre é sinônimo de área eletricamente inativa (AEI).

     Podemos encontrar alguns dados sugestivos de AEI em outras situações como:

– BRE: onda r com crescimento lento de V1 a V3, com QS;

– Pré excitação ventricular;

– Bloqueio fascicular anterior esquerdo;

– DPOC;

– TEP;

– Pneumotórax (principalmente à esquerda)

Obs2: A cardiomiopatia hipertrófica é uma situação que também pode se apresentar com onda Q no eletrocardiograma. Isso ocorre pela perda de forças elétricas secundário às áreas extensas de fibrose no miocárdio.

Outra situação é no caso de hipertrofia septal assimétrica, quando podem aparecer ondas Qs profundas e estreitas nas derivações laterais (V5-V6, DI e aVL) e inferiores (DII, DIII, aVF). Esse último achado pode simular um infarto cursando com áreas inativas. No entanto, aqui há um detalhe! Na hipertrofia septal assimétrica, tais ondas Qs costumam ter duração de menos que 40 ms!!!

REPOST: Jaleko


Escolha sua Pós-Graduação VMed
Share.

Leave A Reply