O olho é um órgão par essencial à nossa vida, e apesar de não ser vital é difícil nos imaginarmos sem ele. É através dele que vemos tudo a nossa volta, interagimos com o mundo ao nosso redor, com as pessoas, com as paisagens. Na medicina, a inspeção, uma das etapas do exame físico, que consiste em observar o seu paciente, necessita da visão para que você veja quaisquer alterações superficiais.

Figura 1: Olho

                Diante de tamanha importância, conhecer a anatomia do olho é crucial pois ajuda a compreender até mesmo o seu funcionamento. Por isso, hoje vamos falar a respeito da anatomia desse órgão tão importante em nossa vida.

Localização dos Olhos

                Os olhos estão localizados na face, mais especificamente em cavidades presentes no esqueleto ósseo, conhecidas como órbitas.

Figura 2: Cavidade Orbitária

               
               Diversos ossos da face (viscerocrânio) e ossos do neurocrânio se unem para formar essas cavidades, sendo eles osso frontal, zigomático, lacrimal, maxila, esfenoide e etmoide.

                A órbita acomoda os olhos, e além disso, serve como proteção aos mesmos.

                Mas somente as órbitas não conseguem proteger os olhos totalmente, visto que a porção anterior permanece exposta. Para isso existem as pálpebras, que são pregas de pele fina externamente, e que ao serem fechadas, cobrem os olhos.

Pálpebras

                Essas pregas de pele fina, as pálpebras, protegem nossos olhos contra possíveis lesões e contra excesso de luz. Por exemplo, se você tentar olhar pro sol, o que acontece? O seu olho “fecha” involuntariamente. Isso são as suas pálpebras protegendo os seus olhos.

                Além de proteger, as pálpebras são recobertas internamente por uma mucosa, conhecida como túnica conjuntiva da pálpebra. Essa túnica é conjunta com uma outra túnica, a túnica conjuntiva do bulbo. Com essa união e reflexão, formam-se recessos profundos, que são os fórnices superior e inferior da conjuntiva.

Essa união possui um limite, e esse limite forma um espaço que é o saco da conjuntiva. Esse saco segue o movimento das pálpebras: se abre quando elas se abrem, e se fecha quando as pálpebras se fecham. É ele quem permite o deslocamento das pálpebras.

Mas se fossem apenas uma prega de pele fina, poderiam ter outro formato, por exemplo, mas para que isso não aconteça, há um tipo de “esqueleto” que mantém a sua forma. Esse “esqueleto” são faixas de tecido conjuntivo, os tarsos superior e inferior. E para que haja o livre movimento das pálpebras, como se estivessem deslizando sobre os olhos, no tarso há glândulas tarsais que secretam uma substância que lubrifica as pálpebras.

                Nas margens das pálpebras ainda há uma outra proteção, que são os cílios.  

Aparelho Lacrimal

Figura 3: Lágrima

O aparelho lacrimal também está intimamente relacionado aos olhos. É composto pela glândula lacrimal, que secreta um líquido, o qual chamamos de lágrimas.  Mas além do choro (quando o líquido é produzido excessivamente), esse líquido é importantíssimo para os olhos pois umidifica e lubrifica os olhos, além de ser uma substância bactericida. O “brilho” que temos em nossos olhos é devido a essa substância, e o movimento de piscar os olhos é quem movimenta o líquido pelo olho e auxilia na remoção de impurezas.

Além da glândula lacrimal, o aparelho lacrimal possui os ductos excretores e canalículos lacrimais que se encarregam da excreção e drenagem do líquido.

E um ducto especial, que comunica o aparelho lacrimal com a cavidade nasal que é o ducto lacrimonasal. Lembra quando você está chorando e o seu nariz começa a liberar uma substância aquosa também? Isso se deve a essa comunicação, que conduz o líquido lacrimal ao meato nasal inferior.

A glândula lacrimal possui inervação simpática e parassimpática. A inervação parassimpática se dá pelo nervo facial (o VII par craniano), e a inervação simpática por fibras do gânglio cervical superior. Quando uma pessoa sofre uma paralisia facial, por lesão do nervo facial, além de não conseguir fechar os olhos, por perda da inervação dos músculos da face, ela também sofre uma redução ou ausência de produção do líquido lacrimal, e dentre as consequências, pode haver ressecamento do olho.  

Bulbo do olho

                Aquilo que chamamos de olho, na verdade é o bulbo do olho. É ele quem contém os elementos do olho. É uma estrutura esférica, que se localiza na cavidade orbitária. Para compor o bulbo do olho, temos três túnicas: a túnica fibrosa, a túnica vascular e a túnica interna. Veremos cada uma dessas túnicas, pois elas contêm os elementos do bulbo do olho, elementos esses que nos permitem ter a visão.

Túnica fibrosa

A túnica fibrosa é a túnica mais externa, garantindo força e resistência ao bulbo do olho.

                Uma das estruturas que forma a túnica fibrosa é a esclera. A esclera é a “parte branca do olho”, a qual vemos apenas a porção anterior, mas posteriormente a esclera também está presente, sendo importantíssima para fixação dos músculos extrínsecos e intrínsecos do olho.

                A outra parte que compõe a túnica fibrosa é a córnea. Ao contrário da esclera que é branca, a córnea é transparente e está presente apenas na porção anterior do bulbo do olho. Outra diferença é que a córnea é mais convexa, e também mais sensível do que a esclera. Para você se localizar e compreender melhor, a córnea está sobre a íris e a pupila, mas não impede a visualização das mesmas por ser transparente.

                A túnica fibrosa como um todo, esclera e córnea, possui pouca ou nenhuma vascularização, respectivamente. A nutrição se dá pelo líquido lacrimal e pelo humor aquoso. Para que a nutrição aconteça, principalmente da córnea que é avascular, há um local que marca a união da esclera e da córnea, que é o limbo da córnea. Esse local é importante pois nele chegam diversos capilares sanguíneos.

Túnica vascular

Enquanto a túnica fibrosa quase não tem vasos, a túnica vascular como seu nome sugere, é rica em capilares sanguíneos.

                Uma das estruturas que compõe essa túnica vascular é a corioide, uma camada de coloração marrom-avermelhada que cobre a maior parte da esclera. A corioide é rica em vasos sanguíneos e fornece nutrição às estruturas adjacentes que são avasculares. Uma coisa muito interessante a respeito da corioide é que graças a ela há o reflexo vermelho do olho, que deve ser avaliado ao examinar o olho, e que rotineiramente aparece em fotos com uso de flash.

                Outra estrutura que compõe essa túnica é o corpo ciliar. A corioide é contínua com o corpo ciliar. O corpo ciliar contém tecido vascular e muscular. É nele que a lente é fixada. O tecido muscular que compõe o corpo ciliar é importante para regular o foco da lente, pois a contração do músculo liso ali presente é quem faz essa regulação. O corpo ciliar possui estruturas, os processos ciliares, que realizam a secreção de um líquido, o humor aquoso. O humor aquoso é um líquido transparente que nutre a córnea e o cristalino. Ele interfere na pressão interna do olho, dessa forma excesso de produção ou redução da drenagem podem provocar aumento da pressão intraocular (pressão intraocular normal é entre 10 e 21,5 mmHg).

                A última estrutura que compõe a túnica vascular é a íris. A íris está localizada anteriormente no olho, e possui uma abertura no centro, a pupila. A íris é a parte colorida do olho, que varia entre os indivíduos. Já a pupila é a porção preta ao centro, por onde entra a luminosidade. Você sabe que a pupila pode se alterar em tamanho, contraindo-se ou dilatando. Isso se dá por diversos motivos, sendo um deles a iluminação local. Se você está em lugar com intensa iluminação, por exemplo o sol, a pupila tende a reduzir para controlar o quanto de luz “entrará”. Da mesma forma ocorre se você estiver em um local com pouca iluminação, a pupila dilata na tentativa de captar o máximo de luminosidade possível. Outra situação em que a pupila varia é por atuação do sistema nervoso autônomo, simpático e parassimpático. Quando por atuação do simpático, há um aumento da atividade, por exemplo, uma corrida, então há um estímulo para que a pupila dilate. Já por ação parassimpática, a tendência é que haja uma redução do diâmetro da pupila. Os termos para esse aumento ou redução da pupila são midríase para a dilatação, e miose para a redução da pupila. Mas você pode se perguntar, como essa alteração do tamanho acontece? Há dois músculos da pupila que promovem o aumento ou redução da pupila, o músculo dilatador da pupila e o músculo esfíncter da pupila. Simples assim! 

Figura 4: Íris e ao centro a pupila

Túnica interna

A túnica interna, apesar de todas as outras túnicas serem importantes, tem uma importância especial. Isso porque ela é composta pela retina, a camada do olho formada por tecido nervoso.

A retina possui duas diferentes porções: a parte óptica e a parte cega. A parte óptica possui dois estratos: um estrato nervoso que é sensível aos raios luminosos, e um estrato pigmentoso que auxilia a corioide na absorção de luz. A parte cega é uma continuação do estrato pigmentoso.

                Na face posterior do bulbo do olho, há uma região muito importante na prática clínica conhecida como fundo do bulbo do olho. Nessa região do fundo do olho é por onde o nervo óptico entra no bulbo do olho, sendo que o local de entrada é chamado de disco do nervo óptico ou papila óptica. Esse local não é fotossensível, e é conhecido como ponto cego.

Lateralmente à papila óptica está a mácula lútea, uma região que possui fotorreceptores especiais, importantes para a acuidade visual. Ao centro da mácula, há uma depressão conhecida como fóvea central, e é o local de maior acuidade visual.

Caso queira aprender sobre o exame do olho com o uso do oftalmoscópio, leia o artigo do blog com o passo a passo aqui.

Vascularização da órbita: Artérias do olho

                A principal artéria que supre as estruturas da órbita é a artéria oftálmica. Outras artérias também contribuem como a artéria infraorbital, que vasculariza o assoalho; a artéria central da retina que supre a porção interna da retina. A porção externa da retina é suprida pela lâmina de capilares da corioide.

                Além dessas artérias principais há ainda ramos da artéria oftálmica que recebem nomes especiais. A corioide, por exemplo, é suprida por seis artérias ciliares posteriores curtas. O plexo ciliar é vascularizado por anastomoses entre duas artérias ciliares longas e artérias ciliares anteriores.

Vascularização da órbita: Veias do olho

As principais veias que drenam a órbita são as veias oftálmicas superior e inferior, que após atravessarem a fissura orbital superior, entram no seio cavernoso.

veia central da retina também faz parte da drenagem, especialmente da retina, e drena diretamente para o seio cavernoso.

A túnica vascular é drenada para a veia oftálmica inferior.

Há também o seio venoso da esclera, estrutura importante por drenar a região anterior do bulbo do olho, mas principalmente por drenar o humor aquoso.

Músculos do Bulbo do Olho

Figura 5: Músculos do olho

                Alguns músculos estão presentes na órbita e são essenciais para a movimentação do bulbo do olho e das pálpebras. Sete músculos estão envolvidos nessa movimentação, como veremos a seguir.

                A pálpebra possui um músculo que permite sua movimentação, o músculo levantador da pálpebra superior. Assim conseguimos piscar, por exemplo, ao elevarmos a pálpebra.

                Já o bulbo do olho possui vários músculos, visto que realiza vários movimentos: para um lado e para o outro, para cima e para baixo, e movimenta-se até mesmo na diagonal. Dentre esses, quatro são músculos retos e dois são oblíquos.            

                Um dos músculos retos, é o reto superior. Sua ação é promover a elevação, abdução (movimenta-se lateralmente) e girar lateralmente o bulbo do olho.

                Já o reto inferior promove elevação, adução (movimenta-se medialmente, em direção à linha média do corpo) e gira medialmente o bulbo do olho.

                O músculo reto medial abduz o bulbo do olho.

                E o músculo reto lateral abduz o bulbo do olho.

                Temos também dois músculos oblíquos: o oblíquo superior e o oblíquo inferior. O músculo oblíquo superior promove abdução, abaixa e gira medialmente o bulbo do olho. Já o oblíquo inferior realiza abdução, elevação e gira lateralmente o bulbo do olho.

Nervos da órbita

                Alguns nervos penetram na órbita para desempenhar importantíssimas funções. Um desses nervos é o nervo óptico, o segundo par craniano. Esse nervo é quem transmite impulsos gerados por estímulos ópticos.

                Além do nervo óptico, há também outros pares cranianos. O III, IV, e VI pares cranianos também são importantes.

nervo oculomotor (III par), como seu nome sugere, realiza inervação motora de alguns músculos, como o músculo reto superior, reto inferior e reto medial, músculo oblíquo inferior e músculo levantador da pálpebra superior. Além disso, realiza inervação de um músculo intrínseco, o músculo esfíncter da pupila e do músculo ciliar.

Já o IV par, o nervo troclear, fica encarregado de inervar um músculo, o músculo oblíquo superior.

E o VI par, o nervo abducente, realiza inervação motora do músculo reto lateral.

É uma anatomia muito complexa, porém nada é impossível! Entender essas peculiaridades é importantíssimo pois te ajuda a compreender diversas alterações patológicas que podem ocorrer.

O olho é um órgão importante, nos confere um dos sentidos, que é a visão.

Portanto, estude bastante e aprenda essa anatomia!

Bons estudos pessoal e até a próxima!!

REPOST: Jaleko

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