Quem é a noradrenalina?
A noradrenalina, também conhecida como norepinefrina, ou NOR, é um hormônio/neurotransmissor, presente em nosso organismo, e que desempenha funções essenciais.
Por exemplo, quando você está frente à uma situação de medo ou perigo, ocorre uma série de reações em nosso organismo, a fim de preparar o nosso corpo para enfrentar tal situação.
Essas reações são mediadas por substâncias como a noradrenalina, que atua no conhecido sistema autônomo simpático.
Quem produz a noradrenalina?
A noradrenalina é produzida em diferentes locais: nos neurônios noradrenérgicos, principalmente, e na medula adrenal, por isso, ela é um neurotransmissor e hormônio.
Os neurônios noradrenérgicos são a principal fonte de noradrenalina em nosso organismo. Ela é produzida a partir da tirosina e, após algumas reações, é, então, formada, como visto na imagem abaixo.
A noradrenalina é liberada na fenda sináptica pelos neurônios noradrenérgicos e atua em receptores, promovendo assim uma estimulação simpática direta.
Apesar da produção ser principalmente nos neurônios noradrenérgicos, há também a produção de noradrenalina na medula da glândula adrenal. Quando há um estímulo, ou seja, uma situação de medo/perigo, promove a estimulação da medula da glândula adrenal para liberar as catecolaminas (adrenalina, cerca de 80%, e noradrenalina, cerca de 20%).
Essa noradrenalina é liberada na circulação e atua em diversos receptores. A vantagem da noradrenalina como hormônio, liberada por uma glândula na circulação e desempenhando seus efeitos à distância, é que essa ação dura mais do que a estimulação simpática direta.
Armazenamento de norepinefrina
A norepinefrina produzida nos neurônios noradrenérgicos é armazenada em vesículas no próprio neurônio, e esse armazenamento é mantido pelo transportador vesicular de monoaminas.
Liberação de noradrenalina
A liberação das vesículas de NOR se dá ao chegar um impulso nervoso e, assim, ocorre o influxo de cálcio e consequente aumento de cálcio intracelular, e isso estimula uma série de reações para que as vesículas sejam liberadas (você pode ler mais sobre as sinapses e o processo de liberação de neurotransmissores nas sinapses químicas).
Término do efeito da noradrenalina
Para que o efeito da noradrenalina termine, ela deve ser capturada e degradada.
Quando pensamos na noradrenalina liberada pelos neurônios noradrenérgicos, e que atua, ali, nos receptores pós-sinápticos, essa captura acontece principalmente pelo transportador de norepinefrina (NET) presente na membrana neuronal, seletivo para a noradrenalina, e que realiza, rapidamente, essa captura.
Após ser capturada, a noradrenalina é metabolizada, principalmente, pela enzima MAO (monoamino-oxidase), uma enzima que realiza metabolismo de catecolaminas e que está presente, principalmente, nas terminações nervosas noradrenérgicas.
O produto final da degradação é o 3-metoxi-4-hidroxifenilglico e esse, após ser conjugado, é liberado pela urina sob a forma de ácido vanilmandélico (VMA).
Já quando pensamos na noradrenalina circulante, aquela liberada pela medula da glândula adrenal, o principal responsável pela captura é o transportador extraneuronal de monoaminas (EMT), presente em membranas celulares não neuronais, e a metabolização se dá pela MAO, e também pela enzima COMT (catecol-O-metil transferase), e o produto final é o mesmo.
Noradrenalina e Sistema Nervoso Simpático
A noradrenalina é o neurotransmissor envolvido na ativação direta do sistema nervoso autônomo simpático. Ela é produzida nos neurônios noradrenérgicos, e ao ser liberada, atua nos receptores pós sinápticos, produzindo uma série de efeitos importantes na resposta de luta ou fuga.
A noradrenalina liberada na circulação sanguínea pela medula adrenal atua como hormônio, produzindo os mesmos efeitos nos órgãos efetores, os efeitos simpaticomiméticos.
Mas o que é esse sistema? O sistema nervoso autônomo consiste em sistema eferente, que estimula o músculo estriado cardíaco, músculo liso e glândulas.
Esse estímulo é involuntário – você não consegue interferir na velocidade que seu coração “bate”, por exemplo. A atuação desse sistema é possível pela atuação de dois neurônios, que unirão o sistema nervoso central ao órgão efetor (que pode ser, músculo estriado cardíaco, músculo liso ou glândulas).
Esses neurônios são conhecidos como pré e pós-ganglionar. Os neurônios pré-ganglionares estão localizados na região toracolombar.
O sistema nervoso autônomo, tanto o simpático quanto o parassimpático, atua em nosso organismo em equilíbrio. Porém, ao longo do dia e de nossas atividades, um pode prevalecer sobre o outro, e nas situações de perigo ou medo, quem predomina é a ação do sistema simpático.
Essa ação é mediada por neurotransmissores, sendo a noradrenalina o mais importante deles, como já falamos anteriormente.
E quais são as funções da noradrenalina atuando no sistema nervoso simpático?
Primeira informação que você precisa saber são os receptores em que a NORA atua: α1, α2 e β1. Agora vamos falar do papel da NORA em cada um desses receptores.
Noradrenalina em α1
Ao atuar em α1, uma das mais importantes ações e que você não pode se esquecer é que a NORA promove uma importante vasoconstricção e, assim, pode provocar uma importante elevação da pressão arterial.
Essa vasoconstricção é tanto arterial, levando ao aumento da resistência vascular periférica (RVP), quanto venosa, aumentando, assim, o retorno venoso.
Há efeitos nos brônquios também, onde a NORA se liga ao receptor α1 e reduz a secreção brônquica, o que permite maior passagem de ar.
Também há contração dos esfíncteres do trato gastrointestinal (TGI), reduzindo o esvaziamento do TGI.
Ocorre também a contração do esfíncter da bexiga e contração do ureter, o que leva à redução da micção.
E as glândulas? Elas sofrem o efeito da vasoconstricção e, em geral, reduzem a sua secreção, e, uma outra alteração, é o aumento da concentração das secreções.
Assim, o suor, por exemplo, se torna mais viscoso e odorífero, e se dá, principalmente, em extremidades (mãos e pés), face, axilas, e região genital.
Há também a contração das glândulas presentes no sistema reprodutor masculino, como próstata e vesículas seminais, e essa contração ocasiona a ejaculação (a ereção peniana é mediada pela ação de outro sistema, que é oposto, o sistema parassimpático).
Noradrenalina em α2
Quando a NORA atua em α2, ela pode atuar tanto na região pré-sináptica, quanto na região pós-sináptica.
A ação mais importante se dá na região pré-sináptica, onde a NORA se liga ao α2 e promove uma autorregulação inibitória, ou seja, ela reduz a liberação de neurotransmissores e, no caso, reduz a liberação de noradrenalina.
Também podem ser notados efeitos pós sinápticos, mas esses são menos importantes. Esses efeitos são vasoconstricção e redução da liberação de insulina (o que leva ao aumento da glicemia).
Noradrenalina em β1
A NORA atua também nos receptores β1, levando à estimulação cardíaca.
Ao atuar nesse receptor presente no coração, a NORA promove aumento do inotropismo (aumento da força de contração), aumento da frequência cardíaca e aumento da velocidade de condução.
Tudo isso leva ao aumento do débito cardíaco (Débito Cardíaco = Volume Sistólico x Frequência Cardíaca) e ao aumento da pressão arterial (Pressão Arterial= Débito Cardíaco x Resistência Vascular Periférica).
Uma importante informação é que a NORA atua nesses receptores, mas existem outras substâncias, como a adrenalina, que estimula esses receptores mais intensamente.
A NORA se liga também em receptores β1 no aparelho justaglomerular, localizado nos rins, que, por meio de sensores de NaCl, promove o controle do fluxo sanguíneo renal e da volemia em geral.
Ao estimular esse receptor, ocorre aumento da secreção de renina, e a renina ativa o sistema renina angiotensina aldosterona, e o que ocorre é a vasoconstricção mediada pela ação da angiotensina II e a ação da aldosterona, que leva a retenção de sódio e água, promovendo o aumento da volemia.
E uma outra ação ao atuar em β1 é reduzir a motilidade intestinal (o que é importante pois, lembre-se que, os esfíncteres estão fechados).
Resumo das ações no sistema nervoso simpático:
Noradrenalina e o Ciclo Sono Vigília
O ciclo sono vigília, no qual passamos um período acordados e outro período dormindo, possui diversos mecanismos, diversas substâncias, que o regulam, sendo que algumas estimulam o sono enquanto outras estimulam a vigília.
A noradrenalina faz parte de um sistema envolvido com a vigília, o sistema monoaminérgico ativador ascendente, sistema esse composto por monoaminas adrenérgicas como adrenalina, noradrenalina, histamina e serotonina, e essas realizam a ativação cortical e induzem ao estado de vigília.
Noradrenalina e a Depressão
Outra função da noradrenalina é participar da bioquímica cerebral, juntamente a outros neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina. Essas substâncias, em suas concentrações normais, mantêm o nosso sistema de recompensa normal.
Uma desregulação desse sistema, por redução de alguma dessas substâncias, pode ocasionar em distúrbios como a depressão.
A queda de noradrenalina nas terminações nervosas cerebrais pode ser a responsável por quadros depressivos.
Quando o neurotransmissor que se encontra reduzido é a noradrenalina, algumas linhas de tratamento para depressão envolve a inibição do transportador de norepinefrina: o NET, lembra dele?!!
Ao ser inibido, a recaptação neuronal não acontece e, assim, o efeito não é finalizado, pois a noradrenalina permanece na fenda sináptica, interagindo com os receptores.
Utilização clínica da noradrenalina
A noradrenalina, por seus inúmeros efeitos, pode ser utilizada para contornar algumas situações emergenciais.
Uma utilização da NORA na emergência é em choques hiperdinâmicos, também chamados de “quentes”, onde a RVP é baixa. Subtipos desses choques são o choque séptico e choque neurogênico. O choque séptico ou inflamatório, cursa com vasodilatação, hipovolemia e depressão miocárdica.
Já o choque neurogênico se dá pela interrupção das vias eferentes simpáticas para os vasos e para o coração, ou seja, aquela atuação “basal” do sistema simpático deixa de ocorrer e, assim, ocorre uma intensa vasodilatação arterial, reduzindo a RVP; vasodilatação venosa, reduzindo o retorno venoso; além de bradicardia e redução da força de contração cardíaca.
Nesses quadros, a noradrenalina é utilizada com o objetivo de elevar a RVP e a pressão arterial, para, assim, manter o fluxo sanguíneo para órgãos nobres (coração e cérebro).
A NORA também pode ser utilizada no choque circulatório, causado pela perda de grande volume sanguíneo. Nesses casos, a NORA é utilizada após a realização da reposição volêmica, com o intuito de realizar a vasoconstricção, para manter perfusão e pressão arterial.
Nossa conversa sobre a noradrenalina está chegando ao fim. Espero que tenham aprendido um pouco a respeito dessa substância tão importante para a homeostase do nosso organismo e para reagir às situações que podem ocorrer, e que exigem um aumento de diversas atividades e funções do nosso organismo…
Por hoje, é isso, pessoal! Bons estudos!!!
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