Sabendo um pouco mais…
A Gonorreia é uma das doenças humanas conhecidas mais antigas, havendo referências à sua existência desde o Velho testamento e literaturas ancestrais. Denominada por Galeno (130 a 200 d.C), seu significado vem de “gono” = espermatozoides + “rhoia” = corrimento –, pois se acreditava que o exsudato purulento manifestado pela infecção, era sêmen.
Somente em 1879 que Neisser descreveu o agente etiológico e em 1982, Leistikow e Loeffler o cultivaram, recebendo o nome de Neisseria gonorrhoeae.
A infecção por esse diplococo gram negativo, ocorre na maioria das vezes, por transmissão sexual em relações desprotegidas: vaginal, oral e retal (cervicite, uretrite, faringite, entre outras). No entanto, também pode ocorrer em recém-nascido, no momento da passagem pelo canal do parto (conjuntivite gonocócica neonatal) e em crianças, como resultado de abuso sexual.
O ser humano é o principal reservatório dessa bactéria. Na maioria dos casos, os indivíduos acometidos são assintomáticos ou oligossintomáticos (apresentam poucos sintomas). Na presença de sintomas, costumam aparecer de 2 a 14 dias após o sexo desprotegido.
Diplococos gram-negativos de Neisseria gonorrhoeae.
Imagem de microscopia eletrônica, de domínio público.
Sintomatologia da gonorreia:
- Nas mulheres: a cervicite (inflamação do colo uterino) é a manifestação mais frequente. Esta pode ser diagnosticada pelo exame especular, com a visualização de secreção cervical purulenta. A uretrite pode ocorrer simultaneamente. Ademais, pode haver outras queixas: corrimento amarelado com odor forte, disúria, polaciúria, dor abdominal dor pélvica, sangramento fora do período menstrual, dispareunia (dor durante a relação sexual) entre outros.
Em 10 a 20% dos casos, o gonococo pode ascender via endométrio até as tubas uterinas causando salgingite e, também, para o peritônio pélvico, desenvolvendo a DIP (Doença Inflamatória Pélvica).
Outros acometimentos são: Bartholinite (inflamação das glândulas de Bartholin, localizadas na região da fúrcula vulvar e responsáveis pela lubrificação vaginal); Skenite (inflamação das glândulas de Skene, localizadas no meato uretral e responsáveis pela lubrificação dele).
Nos homens: é mais comum a uretrite com saída de secreção purulenta uretral (amarelada ou esverdeada). Outros sintomas usuais são: dor e edema testicular, sensibilidade peniana, disúria e polaciúria. Em alguns casos, pode haver Epididimite (caracterizada por dor escrotal unilateral, sensibilidade e edema).
Abscessos das glândulas de Tyson e Littre, periuretrais ou infecção das glândulas de Cowper (próstata e vesículas seminais), são raros.
- Outros acometimentos: faringite gonocócica (assintomática, em sua maioria ou causando desconforto e dor de garganta); gonorreia retal (secreção purulenta anal, sangramento, prurido retal, constipação intestinal); conjuntivite gonocócica do parto (inflamação das pálpebras do recém-nascido com secreção purulenta); gestacional (aborto, prematuridade, sepse neonatal).
Complicações:
- Síndrome de Fitz-Hugh-Curtis: ocorre predominantemente nas mulheres acometidas etrata-se de uma peri-hepatite gonocócica ou por Clamídia. Se apresenta com dor abdominal no hipocôndrio direito, náuseas e vômitos, febre, de forma semelhante à doença hepática o biliar.
- DIP: caracterizada por dor à mobilização do colo uterino, dispareunia, desconforto em baixo ventre. Caso não diagnosticada e tratada adequadamente, pode ser uma causa de infertilidade.
- Artrite gonocócica séptica: causada por uma artrite séptica com efusão, com 1 ou 2 articulações envolvidas (principalmente punhos, cotovelos, joelhos e tornozelos). Seu início geralmente é agudo, com dor intensa, limitação articular e febre. Sinais flogísticos locais costumam estar presentes: edema, hiperemia e hipertermia.
- Infecção gonocócica disseminada (IGD) ou Síndrome artrite-dermatite: é decorrente de uma bacteremia (gonococo atinge corrente sanguínea) a partir de uma gonorreia genital, e se apresenta com febre, poliartralgia migratória, astenia e lesões cutâneas (pequenas, pouco dolorosas, base hiperêmica ou papulares, vesiculares – ocorrendo nas extremidades distais).
Diagnóstico:
O diagnóstico clínico-epidemiológico é possível, e muitas vezes, suficiente para iniciar o tratamento. No entanto, são necessários exames confirmatórios da presença do gonococo.
Sendo os mais utilizados:
i) coloração pelo método de Gram (mais utilizada para secreção uretral do homem) – em variadas amostras, são evidenciados diplococos intracelulares gram negativos e cultura;
ii) cultura – swabs obtidos de amostras são cultivados em meios específicos;
iii) NAATs (testes de amplificação de ácido nucleico) – a partir de swabs genitais, orais ou retais, o material genético do gonoco é amplificado (muitas vezes, juntamente com o da Clamídia).
Como tratar a gonorreia?
O tratamento tradicional para quadros não complicados era realizado com a administração de Ceftriaxona (cefalosporina de 3ª geração), na dose de 500mg, via intra-muscular (IM), em dose única. Atualmente, além da Ceftriaxona, se prescreve Azitromicina, na dose de 1g, por via oral (VO), em dose única – uma vez que coinfecções entre Gonoco e Clamídia são comuns.
Uma alternativa à Azitromicina, é a Doxiciclina, 100mg, 2 vezes por dia, por 7 dias. Em casos de DIP, esse tratamento se estende para 14 dias.
Precisa tratar a parceria sexual?
SIM!! A gonorreia é uma IST! Logo, as parcerias sexuais – principalmente, das últimas 2 semanas – devem ser identificadas e tratadas adequamentes.
Por que cepas resistentes?
A resistência aos antimicrobianos é uma realidade e preocupação. Ela é decorrente do abandono do tratamento antes do tempo determinado, do uso de antibioticos na auto-medicação, ou diminuição ou aumento das doses por conta-própria. Sendo assim, as bactérias mais resistentes são selecionadas naturalmente e respondem cada vez menos a esses agentes.
Prevenção da gonorreia:
Simples e de fácil acesso, se dá pelo uso de preservativos (feminino e masculino) – em todas as exposições sexuais (inclusive, no sexo oral).
Até o próximo artigo!
RESPOST: Jaleko