QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DESTA SÍNDROME?

1) Disfunção menstrual com menstruações infrequentes ou ausentes. Algumas mulheres, porém, apresentam Sangramento Uterino Anormal devido à anovulação crônica, sendo que essa disfunção ovulatória é responsável pela infertilidade;

2) Hiperandrogenismo, que pode ser clínico (acen. Hirsutismo e/ou alopécia com padrão masculino) e/ou laboratorial (elevadas concentrações séricas de androgênios);

3) Ultrassonografia transvaginal com aspecto típico de ovários policísticos. Porém, é importante saber que esse é um critério inespecífico que pode estar presente em mulheres com menstruação normal e sem SOP;

4) Presença de fatores de risco para diabetes, doença cardiovascular, incluindo obesidade, resistência periférica à insulina, intolerância à glicose e dislipidemia;

5) As pacientes podem ter apneia do sono e esteatose-hepática não alcoólica;

6) Mulheres com SOP estão mais propensas a desordens do humor (depressão e ansiedade), assim como transtornos alimentares.

COMO É REALIZADO O DIAGNÓSTICO DA SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS (SOP)?

Para confirmar o diagnóstico de Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), utiliza-se os CRITÉRIOS DE ROTTERDAM*:

1) Anovulação (manifestada por irregularidade menstrual);

2) Hiperandrogenismo clínico e/ou laboratorial;

3) USG = ovários policísticos (12 ou mais folículos medindo de 2 a 9 mm) ou ovário com volume aumentado (maior ou igual a 10 mm3);

*Para ser diagnosticada com SOP, a paciente deve apresentar, no mínimo, 2 dos 3 critérios.

Perceba que utilizando-se dos Critérios de Rotterdam, é possível que uma paciente seja diagnosticada com SOP somente através de anamnese e exame físico.

A SOP deve ser suspeitada em qualquer mulher em idade reprodutiva que apresente irregularidade menstrual e hiperandrogenismo, sendo que a presença de sobrepeso ou obesidade aumenta a suspeita diagnóstica.

ATENÇÃO: mulheres com ovários policísticos na USG sem nenhum outro aspecto clínico NÃO apresentam SOP e NÃO necessitam de investigações complementares.

Diagnóstico e tratamento precoce da SOP são cruciais para garantir a qualidade de vida e bem-estar das pacientes.

COMO DEVEMOS AVALIAR O HIPERANDROGENISMO?

O diagnóstico de hiperandrogenismo pode ser feito somente com avaliação clínica da paciente. Os principais achados que falam a favor de hiperandrogenismo são:

1) Acne;

2) Hirsutismo:

3) Padrão masculino de queda de cabelo;

O hiperandrogenismo também pode ser avaliado através de exames laboratoriais:

– Elevação sérica de androgênios, sendo que normalmente é avaliada a TESTOSTERONA TOTAL (se ela estiver acima dos valores de referência para o método utilizado, temos o hiperandrogenismo laboratorial);

O HIRSUTISMO é definido como o excesso de pelos terminais (grossos e pigmentados)  com padrão de distribuição masculino, sendo que as principais regiões em que ele é notado são:

1) Acima do lábio superior;

2) Queixo;

3) Região periareolar;

4) Região medioesternal ao longo da linha alba do andar superior do abdome;

O Score de Ferriman-Gallwey é muito utilizado para avaliar o grau de hirsutismo clinicamente e é muito importante sempre levar em conta os padrões étnicos envolvidos.

Se o médico suspeitar que o hiperandrogenismo possa ser causado por um tumor ovariano ou suprarrenal secretor de androgênio (são casos em que o hirsutismo se instala em idade avançada, com progressão rápida e sinais de virilização, como mudança de voz e clitoromegalia), ele deve pedir a dosagem do SULFATO DE DEHIDROEPIANDROSTERONA (SDHEA) e TESTOSTERONA TOTAL, para buscar a fonte do hiperandrogenismo.

Fique atento! Os métodos disponíveis comercialmente para dosagem de testosterona livre não são confiáveis, pois nisso recomenda-se o cálculo a partir da dosagem de GLOBULINA CARREADORA DE HORMÔNIOS SEXUAIS (SHBG) e TESTOSTERONA TOTAL.

A dosagem de 17OH progesterona deve ser solicitada na fase folicular precoce para descartar a possibilidade de HAC, forma não clássica, pois esta condição é bastante similar a SOP e pode haver associação entre as duas patologias.

Não se deve solicitar a dosagem de androgênios em paciente em uso de contraceptivo hormonal oral (CHO) pois eles suprimem as gonadotrofinas e os androgênios (principalmente a testosterona).

COMO DEVEMOS AVALIAR A OLIGO/ANOVULAÇÃO?

O diagnóstico de anovulação na Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é puramente clínico.

Nas pacientes com SOP, o padrão menstrual mais comum é a oligomenorreia (menos de 9 períodos menstruais por ano). A amenorreia (ausência de menstruação por 6 meses consecutivos ou mais) é menos frequente.

Usualmente, o quadro de oligomenorreia aparece ainda na adolescência, sendo que as pacientes que desenvolvem esta condição em idade mais tardia (após 30 anos, por exemplo) têm menor probabilidade de ter SOP.

E QUANTO À ULTRASSONOGRAFIA TRANSVAGINAL?

A ultrassonografia transvaginal deve ser solicitada quando a paciente apresentar somente um dos critérios clínicos de Rotterdam (oligo/anovulação ou hiperandrogenismo) para avaliar se os ovários são policísticos ou tem volume aumentado.

Vale lembrar que o ovário é considerado com morfologia policística se:

1) Apresentar 12 ou mais folículos com 2-9 mm de diâmetro;

2) Apresentar ovário com volume aumentado (maior ou igual a 10cm3).

É NECESSÁRIO FAZER ALGUM TIPO DE AVALIAÇÃO COMPLEMENTAR?

Diante da confirmação do diagnóstico de SOP, deve-se proceder com a realização de uma avaliação complementar, que deve incluir:

1) Avaliação do risco cardiovascular:

– Pressão arterial;
– IMC;
– Perfil lipídico;
– Glicemia e Hemoglobina glicada ou teste de tolerância oral à glicose;

2) Avaliação de possíveis distúrbios alimentares;

3) Pesquisa de esteatose hepática não-alcóolica;

4) Pesquisa de apneia obstrutiva do sono (percepção de ronco, sonolência diurna excessiva ou cefaleia).

E QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DA SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICO (SOP)?

1) IRREGULARIDADE MENSTRUAL

Já falamos várias vezes, mas vamos repetir: “SE TIVER IRREGULARIDADE MENSTRUAL, TEM QUE DESCARTAR GRAVIDEZ, MESMO SE A PACIENTE AFIRMAR SER IMPOSSÍVEL ESTAR GRÁVIDA!!!”.
E como descartamos a gestação? Solicitando o Beta-HCG…

Para descartar outras causas de irregularidade menstrual, como insuficiência ovariana ou hiperprolactinemia, podemos pedir a dosagem de TSH, Prolactina e FSH, por exemplo.

2) HIRSUTISMO

Quanto ao hirsutismo, outras patologias que podem culminar com este quadro são os tumores ovarianos ou suprarrenais produtores de androgênio.

3) HIPERPLASIA ADRENAL CONGÊNITA (HAC)

A apresentação clínica da HAC é muito semelhante à da SOP.

Para estabelecer o DD entre elas, pode-se solicitar a dosagem dos níveis séricos de 17-hidroxiprogesterona e SDHEA.

Na HAC, a 17-OH progesterona está acima de 200ng/dL e o SDHEA está normal…

4) SÍNDROME DE CUSHING

Uma mulher portadora de síndrome de Cushing pode apresentar um quadro muito parecido com a SOP (Oligomenorreia, hirsutismo e obesidade).

Porém, a paciente com Cushing apresenta outros sinais e sintomas que falam a favor de hipercortisolismo, como:

– Obesidade centrípeta;
– Hipertensão;
– Estrias róseas;
– Giba;
– Aumento do depósito de gordura supraclavicular;
– Fraqueza muscular proximal.

E QUANTO AO TRATAMENTO DA SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS (SOP)?

Lembre-se bem de uma coisa: o tratamento da SOP é individualizado para cada paciente pelo fato de a SOP apresentar uma variedade de fenótipos.

Se a mulher com SOP apresenta obesidade, ela tem mais risco de ter síndrome metabólica e, por isso, o tratamento deve incluir formas de combater essa obesidade e adiposidade abdominal.

No caso de a paciente apresentar hirsutismo e acne, é importante recomendar modificações no estilo de vida, medicamentos antiandrogênicos, assim como medidas cosméticas locais.

Uma paciente com SOP que não deseja engravidar se beneficia com o uso de anticoncepcionais hormonais, ao passo que aquelas que têm SOP e desejam engravidar mas apresentam infertilidade se beneficiam com o uso de drogas indutoras da ovulação.

1) MODIFICAÇÕES NO ESTILO DE VIDA

Dieta e exercícios físicos são o pilar do tratamento da SOP, especialmente em mulheres que apresentam obesidade central.

A SOP causa um ciclo vicioso no metabolismo da mulher:
– Excesso de androgênio favorece o depósito de gordura abdominal –>
– Gordura abdominal leva ao aumento da resistência periférica a insulina –>
– Maior resistência causa hiperinsulinemia –>
– Hiperinsulinemia exerce um efeito sinérgico aos androgênios ovarianos, além de aumentar sua secreção…

A perda de peso interrompe este ciclo e diminui o risco de comorbidades metabólicas associadas à SOP. Parar de fumar também é crucial para as pacientes com SOP.

2) CIRURGIA BARIÁTRICA

A cirurgia bariátrica vai ser recomendada para pacientes com SOP e obesidade grau 3 (IMC maior ou igual a 40kg/m2), trazendo resolução dos sinais e sintomas da SOP.

3) SENSIBILIZADORES DA AÇÃO DA INSULINA E OUTRAS DROGAS ANTIDIABÉTICAS

A METFORMINA (uma biguanida, que diminui a resistência periférica à insulina) é a droga de escolha como terapia adjuvante às modificações de estilo de vida na paciente com SOP e resistência periférica à insulina.

A metformina tem como benefícios:

1) Diminuição dos riscos cardiovasculares;
2) Melhora das alterações reprodutivas;
3) Efeito discreto nos sinais cutâneos de hiperandrogenismo;

O esquema de tratamento com metformina para SOP é o seguinte:
– No início são 500mg diários;
– A cada 15 dias, se aumenta a dose gradativamente, até atingir a dose máxima, que é de 2550mg/dia;

No caso da metformina XR (de liberação lenta), pode não ser necessário fazer a titulação da dose ou ela pode ser feita com maior rapidez.

Se não responder com metformina, pode-se usar Tiazolidinedionas (como a pioglitazone)…

4) CONTRACEPTIVOS HORMONAIS ORAIS (CHO)

Suprimem a produção de androgênios pelos ovários, mediada pelos níveis elevados de LH. Também aumentam as concentrações séricas de SBHG, reduzindo as concentrações de testosterona livre.

Deve-se evitar os CHO’s com altas doses de estrogênio e aqueles cujo progestágeno é derivado da 19-nortestosterona, pois eles possuem mais efeitos colaterais e mais risco cardiovascular, principalmente em pacientes obesas.

Sempre preferir a menor dose de estrogênio que seja eficaz para a paciente, devido ao risco de fenômenos tromboembólicos.

5) PROGESTERONA

Quando administradas de forma cíclica, são muito boas para controlar a irregularidade menstrual.

Os principais métodos de uso da progesterona são:

– Progesterona micronizada 100 a 200 mg/dia por 10 a 14 dias do mês;
– Acetato de medroxiprogesterona 10 mg/dia por 10 a 14 dias do mês;

Se a paciente apresenta oligomenorreia severa, o tratamento se faz ainda mais necessário, pois a exposição prolongada do endométrio ao estrogênio sem oposição da progesterona traz riscos, como a hiperplasia e câncer de endométrio.

6) ANTIANDROGÊNICOS

São usados quando a resposta do hiperandrogenismo ao CHO não é boa ou quando a paciente não deseja ou tem contraindicação ao uso de contraceptivos.

Melhoram tanto a aparência física, quanto as condições psicológicas e qualidade de vida da paciente.

Os antiandrogênicos mais utilizados são:

– Ciproterona;
– Finasterida (não é um antiandrogênico, mas inibe a 5 alfa redutase, inibindo a conversão periférica de testosterona);
– Drospirenona;
– Espirolactona;

É importante lembrar que os tratamentos que combinam mais de uma droga (metformina e CHO ou CHO e antiandrogênico) conferem melhores resultados.

7) INDUTORES DA OVULAÇÃO

Usados para aumentar os níveis de FSH e estimular a foliculogênese. Pode-se usar drogas antiestrogênicas ou inibidores da aromatase para aumentar o FSH endógeno ou administrar FSH exógeno em injeções diárias:

– Citrato de clomifeno 50-200 mg/dia (1 a 4 cp por dia) do terceiro ao sétimo dia do ciclo, por até 6 meses;
– Letrozol 2,5-5 mg/dia do terceiro ao sétimo dia do ciclo;
-Gonadotrofinas injetáveis, a partir de 50 U/dia;

REPOST: Jaleko


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